quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Inovação e Educação: receita de progresso







Chegamos em 2012. Definitivamente colocamos o pé na segunda década desse século. Vivemos em uma época onde algumas mudanças iniciadas há alguns anos na sociedade começam a se consolidar e amadurecer com o uso maçico da tecnologia. Bilhões e bilhões de pessoas recebem os benefícios desse enorme salto tecnológico por que passa a humanidade. São bilhões de acessos à internet, trilhões de megabites de informações geradas, inúmeros produtos eletrônicos vendidos. A lista é enorme, se contarmos toda a infra-estrutura humana movida pela tecnologia. Com o desenvolvimento da engenharia e processos fabris, o invento, fabricação e a utilização de produtos eletrônicos de alta qualidade transformaram a realidade de um incontável número de pessoas em torno da Terra. Não conseguimos ter ainda o distanciamento histórico suficiente para julgar o impacto da tecnologia de alta qualidade com fácil acesso sobre o homem nos últimos anos.

Na década passada, assistimos além desse boom da tecnologia, um grande despertar da sociedade sobre a questão da impacto ambiental. Ficamos espantados com as constantes notícias na imprensa de cientistas falando sobre um quadro sombrio no futuro em relação à nossa relação com a Terra. Descobrimos atônitos que nossas ações, como devastação da vegetação nativa, a matança descriminada de animais, a poluição e a emissão de gases nocivos estavam passando de um certo limite considerado seguro para nossa sobrevivência. Foram inúmeras manchetes mostrando os abusos e tentativas de acordos, na maioria fracassados. Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, produziu um documentário nos alertando que estávamos consumindo em torno de uma vez e meia a capacidade de regeneração da Terra. Foi um baque para a sociedade. Muito se falou, mas poucos podem afirmar com certeza o grau do impacto do homem sobre a Terra. Entendemos que estamos utilizando agora uma espécie de cheque especial tendo a natureza como fiadora. Agora teremos que pagar essa conta pelo século afora. A impressão que fica é que temos apenas uma pálida pista de como ao menos não prejudicar ainda mais o futuro do planeta. Palavras como reciclagem e sustentabilidade já fazem parte do vocabulário de qualquer criança em fase escolar e ações sócio-ambientais preventivas estão presentes na vida do cidadão comum e das empresas, seja na forma de como tratamos nosso lixo, seja em nossas inúmeras ações em prol de tornar o mundo um lugar mais sustentável. Mas ainda nada é seguro.

Agora a humanidade tem pela frente uma oportunidade única de resolver um outro grande problema que está se arrastando há muitas décadas com a utilização da tecnologia. Um tema que deve entrar no foco da discussão mundial pela sua importância estratégica será a educação. A educação é um terreno pantanoso, onde a sociedade pouco evoluiu nas últimas décadas. O sistema básico de ensino funciona mais ou menos igual há séculos. Um professor do século XIX conseguiria dar aula hoje em dia utilizando a lousa, o giz e a atenção de alunos sentados em filas. Era exatamente igual a hoje. Podemos dizer que a instituição "escola" foi entre as instituições humanas, como por exemplo a igreja e a família, uma das que menos evoluiu. E porque não mudou? Porque ainda não absorveu o impacto do uso maciço de tecnologia nas salas de aula . O processo ainda está engatinhando e começou com o uso de calculadoras na década de 70. Escolas mais abastadas já começam sentir os efeitos práticos da utilização de um projetor ligado à um computador, quadros negros multi-touch, tablets, entre outros equipamentos desenvolvidos para a sala de aula. Mas a maioria ainda não adotou essas tecnologias, continua a tudo a ser como era antigamente.

Historicamente, sempre relegamos a educação a um segundo plano. Não houve proposta de mudanças reais nas escolas nas últimas décadas e o ensino convencional entrou em decadência. A escola não se reinventou e enfrentamos hoje carência de salas de aula adequadas, alunos pouco interessados no conteúdo das aulas, professores mal preparados e mal pagos. Parece que o modelo não funciona mais.

Uma alternativa que surge agora é o homem dominar rapidamente a produção de objetos de aprendizagem com altíssima qualidade para tablets e outros equipamentos interativos em geral. Chamamos de objetos de aprendizagem todos os exercícios ou apresentações produzidos especialmente para o mundo digital, como filmes, fotos, apresentações multimídias e exercícios digitais. O problema que a maioria desse material é de baixíssima qualidade e acaba não atraindo o aluno.  Existe um portal mundial, ligado ao MEC, onde é disponibilizado boa parte desse material gerado por milhares de profissionais de educação pelo mundo afora e que pode ser baixado por qualquer um, a qualquer momento. (BIOE - http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/)  Existem outras centenas desses aplicativos nas lojas virtuais como Apple Store e Android Market, alguns muito bem feitos.

A educação de qualidade do futuro vai a chegar primeiramente pelo universo digital. O professor tende a ser uma figura chave desse ensino na forma de representar a figura de um adulto responsável que colocará regras e a disciplina no processo e estará presente para reforçar e incentivar esse aluno do futuro em sua caminhada pelo mundo digital. O professor será rearranjado dentro da sala de aula. Além disso, como esse material poderá ser experienciado em qualquer lugar, pais e irmãos mais velhos terão a oportunidade de aprender e relembrar das matérias se divertindo, afetando a realidade educacional não só do aluno, mas de toda a família. Parece até sonho, mas está a um passo de se concretizar.

A grande novidade no futuro seria um novo mercado criar aplicativos interativos (ou objetos de aprendizagem) muito bem feitos para tablets desenvolvidos para todas as séries escolares e que seriam o material didático do futuro, os apps do futuro, que serão utilizados em conjunto com livros e apostilas convencionais. A queda gradativa de impostos em relação aos preços finais sobre os tablets garantirá a distribuição em massa de tablets para alunos e professores em sala de aula e que, por fim, acabará substituindo gradativamente o material escolar convencional.

E onde o Brasil entra nessa? Se formos rápidos poderemos dominar esse grande mercado que ainda não está amadurecido. Poderemos fincar definitivamente nossa bandeira nessa seara da educação como um dos países líderes no mundo. Poderemos combinar a nossa talentosa e nascente indústria de entretenimento (que produz filmes, animações, games de qualidade), juntando aos conceitos design interativo de experiências, programação de software além de uma releitura dos métodos didáticos tradicionais os adaptando para a nova realidade. Se colocarmos tudo isso em um liquidificador digital teremos como resultado um novo material didático, vibrante e eficiente, em formato digital nativo, que poderá facilmente chegar aos rincões do país com a mesma qualidade que um garoto hoje tem acesso em uma escola particular em São Paulo. Poderíamos levar educação de qualidade a qualquer lugar e para qualquer um, equalizando o abismo social. Muito rápido e relativamente barato. Imagina um material didático desenhado por Carlos Saldanha (Era do Gelo), ou pelo Maurício de Souza, ou pelos milhares de animadores 2D e 3D e desenhistas que despontam no país, que que delícia seria aprender?

Um alternativa é usarmos a Lei Rouanet para financiar esse avanço. Recentemente a Lei foi modificada para enquadrar a produção de games como uma alternativa para se captar recurso, como fazem os filmes. Oportunidade única da sociedade brasileira para unirmos nossa nascente indústria de jogos, a de entretenimento em geral e o mundo dos pedagogos. O ideal mesmo seria a criação de uma lei aos moldes da Rouanet específica para produção desse conteúdo digital para a Educação. Isso sim seria um incentivo e tanto para esse nicho de mercado que nasceu há pouco tempo. Esses objetos de objetos de aprendizagem ainda devem evoluir muito nos próximos anos. Estamos só no início de uma revolução, de uma nova era na educação.

Precisaremos de verba e disposição e uma enorme rede de profissionais capacitados para construírmos juntos desde o processo de alfabetização, passando séries subsequentes de ensino básico até chegarmos a ter todo o currículo escolar digitalizado e interativo. Imagina como vai ser o futuro? Imaginem as possibilidades. Empresários apoiem essa idéia.


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