domingo, 22 de janeiro de 2012

Tablets na escola pública: solução ou ouro de tolo?



Sou um grande entusiasta do uso da tecnologia para fins pedagógicos, com o objetivo de facilitar o aprendizado e estimular a inclusão digital. Ao mesmo tempo, fico preocupado com a febre que vê na tecnologia uma panacéia para todos os males. Isso está acontecendo no Brasil e é urgente discutirmos em que casos novos recursos tecnológicos podem, de fato, exercer impacto positivo sobre a educação e em quais isso seria apenas uma maquiagem tecnológica, igual a maquiagem verde/ greenwashing que muitas empresas fazem para parecer mais sustentáveis e “ficar bem” na opinião dos consumidores.
Recentemente, o Ministro da Ciência e Tecnologia, Aloísio Mercadante, anunciou que planeja trocar os livros didáticos por tablets nas escolas públicas. Segundo ele: “Queremos levar [o tablet] para a escola pública e fazer como outros países já estão fazendo. Taiwan já acabou com o livro didático, só tem livro na biblioteca. O aluno lê toda a bibliografia por meio do tablet que também é um caderno eletrônico. A Coreia, em dois anos, não terá livro didático. É o próximo passo do nosso projeto.”
Do ponto de vista econômico isso é interessante. A implantação de tablets como ferramenta fundamental na escola pública pode impulsionar o setor, resultando em maior inclusão digital, arrecadação de impostos e criação de empregos, entre outras vantagens. Mas para fins pedagógicos é também necessário se discutir como tablets impactam as metodologias de ensino.
O raciocínio é simples. Se um aluno não consegue aprender com um livro em papel, ler o mesmo livro em formato digital não representa ganho algum. Vai continuar sem aprender. Se os tablets forem implantados na rede pública sem se refletir qual seria a melhor metodologia para que o seu uso realmente faça alguma diferença, será puro ouro de tolo. Para isso, seria muito necessário que o Ministério da Ciência e Tecnologia e o Ministério da Educação trabalhassem em conjunto para discutir uma reforma pedagógica para incluir novas tecnologias eficientemente.
Isso vale para qualquer outro recurso tecnológico que seja adotado pelas escolas públicas, não somente tablets. É perigoso nos deslumbrarmos com novas tecnologias e vermos nelas uma solução definitiva para qualquer problema, sem questionarmos o cenário de um ponto de vista mais amplo e profundo.
A meu ver, as novas tecnologias deveriam ser usadas para tornar o aluno mais independente do professor, incentivando o auto-didatismo e tornando a sala de aula um local em que se tiram dúvidas e aprofundam questões já estudadas previamente em casa, além de facilitar o trabalho cooperativo entre os alunos. São apenas algumas maneiras que me parece que o uso de tecnologia na escola poderia realmente exercer alguma influência positiva. Mas esta é a opinião de um leigo. Um estudo bem mais profundo merece ser feito por pedagogos e usado como base pelos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia para uma reformulação da metodologia de ensino.
O discurso do Aloísio Mercadante parece reforçar a velha mania brasileira de querer correr antes de aprender a andar. Não é possível compararmos o ensino público brasileira com o sul-coreano. Estamos em patamares muito diferentes e e o contexto da Coréia do Sul é completamente outro. É preciso planejar cuidadosamente como inserir o uso de tablets e outros gadgets na realidade brasileira, não apenas copiar os coreanos e taiwaneses.
Para saber mais
Leia este interessante artigo da Wired sobre como uma escola americana está usando, com sucesso, o estudo online através da Khan Academy para melhorar o aprendizado de seus alunos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário