terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sem saber como usar



Matéria publicada na Folha de S. Paulo – 1/2/2012
Por Breno Costa e Renato Machado
O MEC (Ministério da Educação) vai gastar cerca de R$ 110 milhões na compra de tablets para serem usados em sala de aula sem ter produzido um estudo definitivo sobre o uso pedagógico dos aparelhos. Conforme a Folha revelou ontem, o MEC iniciou na semana passada, sem alarde, uma licitação para a aquisição de 900 mil tablets.
A compra total será de, ao menos, R$ 330 milhões, valor mínimo estimado em leilão. Só um terço dos aparelhos ficará com o MEC. O restante deverá ser adquirido por Estados e municípios, que arrecadarão com aproximadamente R$ 220 milhçoes.
O próprio MEC reconhece que o desenvolvimento do método pedagógico para  uso do computador vai acontecer na prática, Os equipamentos serão usados na formação de núcleos, como parte de um plano piloto, em que professores e alunos trabalharão com os tablets para depois disseminarem o aprendizado.
Para efeitos de comparação, o programa Um Computador Por Aluno, do qual a compra dos tablets faz parte, teve um início diferente. Na ocasião, foram fechadas parcerias com universidades que trabalharam no desenvolvimento de conteúdo e na avaliação da nova tecnologia.
Coordenadora do programa ministerial no Sul e no Amazonas, a pesquisadora da UFRGS (Federal do Rio Grande do Sul) Léa Fagundes é favorável ao uso do tablet, mas diz que a discussão sobre a compra do aparelho não passou por pedagogos.
A única audiência pública realizada pelo MEC para subsidiar a compra, em agosto, envolveu só aspectos técnicos, como sistema operacional e tamanho de tela, e não as questões educacionais.
O receio dela é que o tablet seja usado para reforçar o padrão educacional existente. “Tenho medo é de que os governos estejam comprando porque nele cabem 300 livros didáticos. Então, o paradigma não muda”, diz.
AUTONOMIA
O plano do MEC vai nessa direção. A pasta afirma que uma das vantagens do tablet é poder incluir toda a biblioteca do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) num aplicativo.
O professor da PUC-SP Fernando José de Almeida diz que o MEC só deve dar a diretriz inicial, cabendo a Estados e municípios cuidar de projetos pedagógicos.
Almeida também defende que uma parte do aprendizado seja feito na própria sala de aula. “Precisa ter um plano pedagógico, mas também é necessário dar autonomia aos professores”, afirma. O edital para a compra dos equipamentos foi lançado no fim do ano passado, ainda na gestão de Fernando Haddad. O seu substituto, Aloizio Mercadante, é um entusiasta do uso da tecnologia na educação. Em sua posse, dedicou boa parte do discurso para tratar dos benefícios de computadores, tablets e outros.
Professores precisam ser capacitados para essa nova maneira de dar aulas
Por Sérgio Amaral



Livre-docente e coordenador do Laboratório de Novas Tecnologias Aplicadas na Educação,
na Faculdade de Educação da Unicamp
A aula tradicional está cada vez mais mediatizada pelas tecnologias digitais. Começamos com a introdução do computador, passamos pela lousa digital, até chegarmos aos tablets. Para os professores, a introdução dos tablets em sala de aula deverá trazer uma grande mudança na maneira de dar aula, de apresentar e de discutir o conteúdo com seus estudantes.
O problema não é com os alunos, mas com os professores. Precisamos capacitar os docentes para a utilização didática dos tablets no desenvolvimento das atividades pedagógicas em sala de aula. O professor necessita de uma mudança na maneira de ensinar, precisa de uma adaptação do material didático. É fundamental desenvolver atividades em sala de aula com conteúdos que efetivamente utilizem os recursos tecnológicos dos tablets.
O tablet é pequeno, apresenta certa dificuldade de realizar anotações e outros problemas se compararmos com o livro didático. Mas apresenta recursos com a convergência multimidiática e a conexão com a internet que facilitam a busca e a integração de conteúdo, contribuindo com o processo de aprendizagem.
Para tanto, é necessário que a capacitação dos professores não seja somente instrumental, mas contextualizada na potencialidade e na limitação da tecnologia. Deve incluir como são as novas formas de interagir, a linguagem e a construção de conteúdo e como incorporá-las nos processos de ensino e de aprendizagem. Só assim, de fato, estará justificado o uso de tablets em sala de aula, como efetivo instrumento do aprender.

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