quinta-feira, 14 de junho de 2012

A tecnologia a serviço da pedagogia


Novas tecnologias permitem que o professor use, na sala, os recursos da internet para fazer pesquisas e tornar a aula interativa
TÂNIA NOGUEIRA
CINEMINHA
Imagens tridimensionais fazem da aula de Ciências um sucesso de público: os alunos não perdem nada
"Dá um Google Earth!", grita a garotada. No ambiente escuro, alunos da 5a série do ensino fundamental do Colégio Miguel de Cervantes, em São Paulo, dão os últimos retoques em trabalhos multidisciplinares. Numa grande tela, diante da turma, o professor de Português Marco Urrea pergunta: "Onde fica Ouro Preto?". Os alunos pedem o Google Earth, recurso do site de buscas que mostra fotos de satélite de todo o planeta. "Não adianta digitar", diz um menino. "Tem de ir com o cursor", afirma uma garota. Um dos autores do trabalho vai até a tela, onde já se vê uma foto aérea do Brasil. Com a ajuda da caneta do professor, amplia a área escura a sudeste de Belo Horizonte, até que se enxergue cada uma das igrejas da cidade histórica.
Professor e alunos trabalham em uma lousa digital, equipamento que vem sendo adotado em algumas escolas particulares de elite do país. Em busca de interatividade, e para aumentar a autonomia do aluno no processo de aprendizado, muitos colégios têm o equipamento em seus laboratórios de informática, para aulas especiais. Mas os gestores do Miguel de Cervantes decidiram dar um passo além: estão instalando lousas digitais em todas as salas.
Ligado a um computador, o equipamento funciona como um palm top gigante - mas com muito mais recursos (veja o quadro nesta matéria). A tela é igual a um quadro de fórmica branca, desses usados para escrever com pincel mágico. Mas serve também para receber projeções. Nela, professor e alunos trabalham com programas como Word, PowerPoint e Excel e navegam pela internet. Usam softwares como o P3D, programa desenvolvido em parceria entre a empresa que dá nome à ferramenta e a Cidade do Conhecimento, centro de pesquisa de novas tecnologias da Universidade de São Paulo. O software usa figuras e cenários tridimensionais, animados e interativos, para transmitir conteúdos tradicionais, como a anatomia dos ossos humanos ou a estrutura do Sistema Solar.
Ter o equipamento à disposição a qualquer momento garante que a inovação se integre ao projeto pedagógico da escola e mude o ritmo do aprendizado. "A tecnologia deixa de ser usada para ensinar informática e passa a transmitir o conteúdo de várias matérias", diz Antonio Abello, professor de Cultura Espanhola. As lousas digitais e os computadores não são usados o tempo todo, mas são um recurso precioso. "A aula pode ir para um lado inesperado", diz Catherine Zajakoff, professora de Ciências. "Se um aluno faz uma pergunta que foge do programado, posso abrir a internet e buscar uma imagem para ilustrar melhor o que estou explicando."
EXPLICAÇÃO
Os estudantes acompanham todos os comandos do professor
A reforma das salas começou no início do ano. Inclui instalação de estrutura de home theater, com isolamento acústico, luminosidade e temperatura controladas. Dezesseis das 70 salas do colégio já funcionam no novo modelo. A reforma começou pelo ensino infantil e pelas 5as e 6as séries do ensino fundamental. Elas ficam no prédio mais antigo, de 1978. Foi nesse ano que a escola bilíngüe, ligada ao governo da Espanha, foi fundada. Até 2009, a mudança deverá atingir todas as salas. Segundo a diretora-pedagógica, Amélia Farré Salazar, já é possível perceber alguns resultados da inovação. "O interesse pelas aulas cresceu", diz. A resposta não pode ser medida cientificamente, mas a proposta não é essa. Desde 2004, o Miguel de Cervantes trabalha com lousas digitais nos laboratórios de informática. A boa aceitação tanto de alunos como de professores foi o principal motivo da opção pelas salas tecnológicas. A adaptação já custou R$ 2,6 milhões aos cofres da escola, entre reformas e compra de equipamentos (cada lousa custa R$ 6 mil). Mas nada disso significou aumento no valor das s mensalidades, que variam de R$ 1.200 a R$ 1.800, dependendo da série e da carga horária. Segundo o diretor-administrativo, Roberto Veloso, a escola não seguiu nenhum modelo de sucesso internacional. "É uma experiência", diz ele. "Mas não é uma experiência inconseqüente. Nossos alunos têm internet, banda larga e TV a cabo em casa. Apenas colocamos o professor no mundo dos estudantes."
Um deles é Gustavo Giraldes, de 11 anos. Ele curte brincar no quintal com seus cachorros, mas gostaria mesmo é de jogar no computador. Só que a regra, em sua casa, determina jogos de computador apenas aos fins de semana. Ele está entusiasmado com a novidade na escola. "Ficou mais divertido", diz. "Na aula de Espanhol, por exemplo, a professora vem com tudo pronto e não precisa ficar escrevendo a lição na lousa. A gente começa logo a resolver as questões." Apesar da familiaridade dessa nova geração com a tecnologia, pequenos truques deixam as crianças espantadas. Quando a professora pega a caneta - que funciona como um mouse - e movimenta a figura tridimensional de um olho humano projetado na tela, ouve-se um "Ohh!!". Os alunos observam, impressionados, enquanto a figura se desdobra em córnea, íris, cristalino, retina.
Segundo Viviane Gabriel Ferreira, professora de Novas Tecnologias, a lousa prende a atenção mais que outros recursos, como computadores em rede ou laptops individuais. "O aluno acompanha todos os passos", diz. "Se cada uma está num computador, mesmo em rede, a criança pode não perceber onde cliquei ou como abri determinada janela. Na lousa, ela vê minha mão clicando no botão. Posso pegar a caneta e fazer um círculo em torno de algo que quero destacar. Além disso, lembra uma tela de cinema."

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG75407-6014-437,00.html

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